Em 07 de setembro de 1812, as portas de Moscou, o Exército Russo finalmente ofereceu a batalha que Napoleão vinha buscando desde que atravessara o Rio Niemen e invadira o País dez semanas antes a frente de um Imenso Exército multinacional com mais de 600 mil homens, 200 mil cavalos e 1.300 canhões. Metade das tropas que compunham o Grande Armée eram franceses, os demais vinham dos reinos dominados por Napoleão, incluindo poloneses, austríacos, italianos, bávaros, saxões e prussianos, entre outros.
O objetivo da invasão não era conquistar terras russas e sim obrigar o Czar Alexandre a se submeter aos desígnios do Imperador Francês. Para isso seria preciso derrotar os exércitos russos, que contavam com cerca de 250 mil soldados nas províncias ocidentais, divididos em três exércitos dispersos em regiões diferentes. Ciente da superioridade das forças napoleônicas, o comandante geral das forças russas, Marechal Barclay de Tolly, ordenou sucessivas retiradas, se limitando a escaramuças e implementando uma tática de terra arrasada, destruindo quase tudo que pudesse ser útil aos invasores.
Um mês após o início da invasão, Napoleão tinha capturado as importantes cidades de Vilna e Minsk, mas não conseguira a grande batalha que almejava e à medida que penetrava cada vez mais no território russo, suas fileiras diminuíam por baixas e pelas tropas que deveria deixar guardando as posições e as linhas de comunicação.
Apesar do sucesso, a estratégia de Barclay de Tolly enfrentava o descontentamento das tropas e de outros generais que pressionaram para que a cidade de Smolensk fosse defendida e lá – entre os dias 16 e 18 de agosto – ocorreu a primeira grande batalha da campanha.
Após resistirem a diversas investidas, os russos recuaram mais uma vez e Napoleão conquistou uma grande cidade parcialmente destruída, sem obter a vitória decisiva que buscava. 10.000 franceses e 12.000 russos jaziam mortos ou feridos no campo de batalha.
A retirada, mais uma vez, salvou o Exército Russo, mas a perda de Smolensk custou a Barclay de Tolly o comando geral das forças russas. Para seu lugar foi chamado o velho Marechal Mikhail Kutuzov, então com 67 anos, que assumiu prometendo ao Czar que morreria antes de permitir que Moscou fosse ocupada pelo inimigo.
Para tentar barrar o avanço das tropas de Napoleão, o comando russo decidiu montar uma posição defensiva em torno da pequena vila de Borodino, situada 125 km a oeste de Moscou. Os russos potencializaram as vantagens defensivas naturais do terreno com terraplanagens. Um ‘Grande Reduto’ foi construído no centro da linha russa, contando com 20 canhões. Além disso, três fortificações em forma de flecha, chamadas flèches, foram construídas no topo de colinas à esquerda da linha russa. Outro reduto, o mais vulnerável, foi construído no vilarejo de Shevardino, na extrema esquerda da linha russa. No total, os russos tinham cerca de 120.000 homens e 640 canhões.
Os franceses, vindos de Smolensk, a quase 280 km de distância, apresentaram-se para batalha no dia 07 de setembro com cerca de 130 mil homens e pouco menos de 600 canhões.
Inicialmente, atacaram e tomaram Shevardino e, em seguida, deram inicio a uma sucessão de custosos ataques frontais as posições russas. Durante horas, combates ferozes se desenrolaram ao longo da frente de 05 Km e, em nenhum momento, a notória genialidade militar de Napoleão se manifestou. Especula-se que problemas de saúde ou a alegada preocupação com o fato de ter um longo caminho de volta, embotaram sua audácia e fizeram o Imperador Francês recusar os pedidos de seus generais para que lançasse em batalha os 20 mil homens de sua intacta Guarda Imperial, mantida na Reserva, enquanto Kutuzov já tinha comprometido todas as suas forças. Talvez, se o tivesse feito, poderia ter imposto uma derrota decisiva, mas não existe “se” em História.
Após 12 horas, a maior e mais sangrenta batalha das Guerras Napoleônicas se encerrava, com os russos batendo em retirada e os franceses incapazes de persegui-los. Os russos sofreram cerca de 45.000 baixas, incluindo príncipe Bagration, comandante do 2º Exército, enquanto as baixas francesas foram de aproximadamente 30 mil combatentes. Apesar de sua promessa ao Czar, Kutuzov, assim como seu antecessor, tendo que decidir entre sacrificar o Exército para defender uma cidade importante, ou preservá-lo para poder continuar a guerra, escolheu abandonar Moscou, que foi ocupada por Napoleão e o restante de suas desgastadas forças uma semana após a batalha.
Imagem: Linha russa na Batalha de Borodino, pintura de Franz Roubaud (1856 – 1928), acervo do Museu-panorama A Batalha de Borodino em Moscou.
